
Carrego em mim luares,
Canções secretas de passadas eras,
Poeiras estelares,
Fantasias, desejos e quimeras.
Dunas brancas de areia,
Tecendo labirintos variados
Às carícias do vento que passeia…
Praias banhadas pela lua cheia,
Estrelas acordando…
Cores de pôr-do-sol,
Espargindo no céu rosas de ouro,
Que o olho sorve em colorida ânsia,
Com a mesma avidez e extravagância
Do aventureiro em busca de um tesouro.
Em mim carrego sonhos de criança,
Beijos de mãe em noites assombradas,
Quando o vôo insistente de um inseto,
Batendo contra o teto,
Semelhava o rumor de almas penadas,
E o milagre do toque maternal
Devolvia-me a paz das madrugadas.
Sorrisos, ternuras,
Carícias, procuras,
Penúrias, lamentos,
Fugazes momentos
De gozo e venturas.
Carrego em mim o verde
De florestas pujantes, intocadas,
Onde frondes e ramos se entrelaçam,
Compondo arcadas de estranhas catedrais,
E flores vão-se abrindo de mansinho,
Tecendo, com carinho,
O fruto em seus abrigos vegetais….
O mar azul, o verde monte,
O sol, a estrela, o horizonte,
O vasto céu, a pedra nua,
A água cantante de uma fonte…
O abraço amigo, a voz suave,
O toque leve de uma mão,
O amor brilhando num olhar,
O verso, a rima e a canção,
Eis o que sou.
Eis minha herança,
Meu chão, meu canto e minha dança,
O meu tesouro e meu quinhão.
Maria de Fátima de Oliveira