
Flor do asfalto, encantada flor de seda,
sugestão de um crepúsculo de outono,
de uma folha que cai, tonta de sono,
riscando a solidão de uma alameda...
Trazes nos olhos a melancolia das longas
perspectivas paralelas, das avenidas outonais,
daquelas ruas cheias de folhas amarelas
sob um silêncio de tapeçaria...
Em tua voz nervosa tumultua essa voz de
folhagens desbotadas,
quando choram ao longo das calçadas,
simétricas, iguais e abandonadas, as árvores da rua!
Flor da cidade, em teu perfume existe
Qualquer coisa que lembra folhas mortas,
sombras de pôr de sol, árvores tortas,
pela rua calada em que recortas tua silhueta
extravagante e triste...
Flor de volúpia, flor de mocidade,
teu vulto, penetrante como um gume,
passa e, passando, como que resume no olhar,
na voz, no gesto e no perfume,
a vida singular desta cidade!
(Guilherme de Almeida)
2 comentários:
Lindo!
Esse poema me fez lembrar de um amigo que não vejo e nem tenho mais notícias faz muiiiiiiiito tempo. Ele também escreveu um poema para uma simples flor nascida entre as pedras da calçada.
Beijo e bom final de semana.
Sonia:
Belíssimo poema!
Guilherme de Almeida sempre
me encanta!
A foto está maravilhosa.
Reflete enorme sensibilidade
e beleza em sua simplicidade.
Um abraço.
Postar um comentário