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De todas as formas,
este é o meu modo de ser,
improvável lugar entre as dunas e perfeição do céu
o meu modo de ser estilhaçado,
perdido num mapa que trago oculto sob a língua,
esta cartografia secreta,
onde concentro a esperança
no fogo da palavra, em sílabas de luz.
Olha-me com a ternura da primeira vez,
vê e evoca: o vento dança na areia, cantando,
vê e recorda esses milhões de grãos de luz
que navegam no longe do mar nesse lugar
em que poderíamos, ainda, morar no espanto,
nascer de novo e soletrar, letra a letra,
a caligrafia luminosa do vento.
Mas não esqueças, meu amor,
como leve é a dança primordial dos corpos,
não esqueças o derradeiro fulgor do sol,
a perfeição que se desenha
por entre esse cortejo de sombras
as sombras da música, as sombras das vozes.
De todas as formas,
Este é o meu modo de ser, lenta inspiração,
nesta feroz alegria de ter um corpo
que avança contra a escuridão,
em direção a ti, o enlouquecido coração
tão asa quanto a noite de verão,
onde tudo se dobra, mansamente,
para beijar a terra e celebrar,
onde tudo se aquieta
até quase não ser e permanecer
a dança das coisas, os gestos suspensos,
não esqueças a respiração da terra e a glória secreta
do mar, nas sílabas do mundo.
Maria João Cantinho
In Sílabas de Água, 2005.
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6 comentários:
Danza hermosa en versos..
Bravo.
Saludos fraternos
Un abrazo
Como é bom apreciar essa dança
Que encanta....
Um otima dia
Bjs
Andresa Araujo
Sónia...
Este belissimo poema... emocionou-me!
Lindooooo.....
Doces beijos!
Querida amiga, a Maria João foi uma das pessoas responsáveis por eu começar a escrever poesia (até 2005 só escrevia prosa).
O poema que escolheu é magnífico, como aliás tudo o que li até hoje da Maria João.
Um beijo.
É um belíssimo poema. Parabéns pela escolha. É sempre bom passar por aquí, pois além de nos deliciar com boa leitura, a gente aprende.
Beijos,
Furtado.
Querida Sônia
Deliciei-me em meio a belas imagens e poemas. Deixo com você um poema:
Sã Consciência
Sou uma mulher de meia idade
muito embora ninguém nunca tenha dito
de quantos anos é feita uma idade inteira
Uma mulher que deflora o tempo,
o divide ao meio, transita por suas infinitas passagens
e que aprendeu a extrair o seu poder anestésico e cicatrizante
Manuseio o tempo, mantenho-o em lugar seco, arejado
E o sorvo em forma de Alquimia.
(Extraído do livro “O Adestrador de Sentimentos” de Stella Tavares)
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