Hoje chove muito, muito,
e parece que estão lavando o mundo.
Meu vizinho do lado contempla a chuva
e pensa em escrever uma carta de amor,
uma carta à mulher que vive com ele,
cozinha para ele e lava a roupa para ele,
e parece que estão lavando o mundo.
Meu vizinho do lado contempla a chuva
e pensa em escrever uma carta de amor,
uma carta à mulher que vive com ele,
cozinha para ele e lava a roupa para ele,
faz amor com ele e parece sua sombra.
Meu vizinho nunca diz palavras de amor à mulher,
entra em casa pela janela e não pela porta.
Por uma porta se entra em muitos lugares,
no trabalho, no quartel, no cárcere,
em todos os edifícios do mundo.
Mas não no mundo,
nem numa mulher, nem na alma,
quer dizer, nessa caixa ou nave ou chuva
Meu vizinho nunca diz palavras de amor à mulher,
entra em casa pela janela e não pela porta.
Por uma porta se entra em muitos lugares,
no trabalho, no quartel, no cárcere,
em todos os edifícios do mundo.
Mas não no mundo,
nem numa mulher, nem na alma,
quer dizer, nessa caixa ou nave ou chuva
que chamamos assim.
Como hoje, que chove muito,
e me custa escrever a palavra amor.
Porque o amor é uma coisa
Como hoje, que chove muito,
e me custa escrever a palavra amor.
Porque o amor é uma coisa
e a palavra amor é outra coisa,
somente a alma sabe onde os dois se encontram,
e quando, e como,
mas o que pode a alma explicar?
Por isso meu vizinho tem tormentas na boca,
palavras que naufragam,
palavras que não sabem que há sol
somente a alma sabe onde os dois se encontram,
e quando, e como,
mas o que pode a alma explicar?
Por isso meu vizinho tem tormentas na boca,
palavras que naufragam,
palavras que não sabem que há sol
porque nascem e morrem na mesma noite em que amou,
e deixam cartas no pensamento
e deixam cartas no pensamento
que ele nunca escreverá,
como o silêncio que há entre duas rosas,
ou como eu, que escrevo palavras para voltar
ao meu vizinho que contempla a chuva,
à chuva, ao meu coração desterrado.
como o silêncio que há entre duas rosas,
ou como eu, que escrevo palavras para voltar
ao meu vizinho que contempla a chuva,
à chuva, ao meu coração desterrado.
Juan Gelman (in Chuva e outros Poemas)
8 comentários:
Adorei o poema!!
"Porque o amor é uma coisa
e a palavra amor é outra coisa,
somente a alma sabe onde os dois se encontram,
e quando, e como,
mas o que pode a alma explicar?"
Abraçar a chuva e compreender o amor são figuras que moram por dentro da nossa alma.
São figuras que nos acordam o olhar e nos fazem viver numa dimensão maior.
Belas fotos da família e dessa região.
Aí Sônia, você está fotografando muito bem! As 3 são excelentes, cor, textura e beleza. O poema é lindíssimo!
Passei para ler e desejar bom resto de Domingo.
Bjsss
Que lindo poema Sonia!!Que bela escolha.Tuas fotos fazem jus a beleza da Ilha mesmo com a chuva que entristece a natureza.Hoje , depois de uma semana deu uma trégua e a ilha pode nos enfeitiçar.Bjs no coração Eloah
Belíssimo poema!
Confesso ele tocou forte o meu coração!
Tenha uma ótima semana!
Um abraço carinhoso
Olá Sônia, que tudo esteja bem contigo!
Belo poema, com belas palavras que expressam belos sentimentos.
Com certeza, o amor é uma coisa que somente sentindo sabemos o quanto é diferente, e qual a razão de alguns poucos o experimentar. Ao passo que a palavra amor, muitos pronunciam sem sequer conhecer o significado!
Gosto demais de por cá estar pois sempre encontro estas tuas belíssimas imagens a acompanhar estes belos textos que postas por aqui, parabéns pelo belo espaço e pelas imagens de sua ilha em dias chuvoso!
E grato por tuas visitas e comentários eu desejo a você e todos ao redor intenso e feliz viver, abraços e até mais!
As chuvas são mágicas, minha amiga! As mais belas cartas de amor foram escritas por quem contemplava as gotas das chuvas que caíam...
Linda esta escolha.
Abraços
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