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30 setembro 2023

 Abra os olhos! Abra os olhos e espante essa angústia. O medo ouve as batidas aceleradas do nosso coração como cão feroz e nos acha. Acalme-se. Ore. Medite. Dance. Ouça suas músicas prediletas. Conecte-se ao que lhe é sagrado. Reorganize-se.

Abra os olhos e veja. Enxergue que o que está a seu favor é infinitamente maior. Não se apavore com algo que pode lhe prejudicar, esquecendo tudo que contribui para o seu bem ao seu redor.

Abra os olhos e sorria. Que sorriso! Perceba o sol que nele há. Deixe-o espantar o inverno que pensa em se estabelecer. Abra suas janelas. Respire fundo. Inunde-se do que é bom. Gargalhe. Deixe sua criança brincar um pouco, espairecer.

Abra os olhos e escolha o amor. Abra suas portas para ele. Tem tanto para limpar aí, não é? Chore nesse processo de limpeza, se sentir vontade. Visite os quartos escuros, os vazios, os cheios de entulho. Faxine tudo. Acolha o amor de verdade.

Abra os olhos e descubra que há tanto para curar. Coisas que matam ao pouco e você preferiu se apegar. Tantas feridas abertas ou suturadas às pressas. Trate-se com mais cuidado. Escolha com mais sabedoria o que vai manter em si, guardado.

Abra os olhos e perceba que a saída começa por dentro. Você é seu maior exército. Tudo aí dentro trabalha incansavelmente para lhe manter de pé. Abra e veja o seu tamanho, você não é pequeno, você é gigante! Você conhece por completo tudo o que já enfrentou até aqui. Encontre sua força. Avassaladora. Maravilhosa. Abrace-a. Não duvide. Não desmereça o assombro que ela é. 

Abra os olhos, você está vivo! Suspire! Encha seus pulmões. Você é uma obra perfeita. Você está vivo! Que maior milagre você precisa ainda para prosseguir com sua fé?

Rachel Carvalho, Sobre Sentimentos.



26 abril 2019

Poema


Pouco a pouco desfolharam-se as rosas
em todos os jardins iniciando o enredo
das chuvas sobre as casas.
Estávamos no mês em que os crisântemos
se tornam mais brancos.
 
Contra a luz não ousávamos quebrar
o silêncio que na música se abrigava.
Schubert e as canções sem palavras.
O arco da voz preso no violoncelo.
 
O piano e o rumor sublime dos anjos.
Escutávamos a palavra não dita da sonata:
o azul dos lírios em quintais antiquíssimos!
 
Graça Pires.
 
 

06 abril 2019

Silêncio e Solidão

O silêncio abastece
a solidão e dá de comer aos peixes
nas sombras do fundo.
Guarda-nos a casa
tal como o pó, com essa
quieta mansidão
da misericórdia,
e vigia o esquecimento,
a virtude do óleo,
o fio dos verbos
com que nos castigamos.
O silêncio busca-se
para se fazer mais fundo
nos desfiladeiros do sussurro,
na desolação, lá
onde as palavras não alcançam
e o amor se abriga do assédio
das profanações.
 
José A. Ramírez Lozano.

20 junho 2017

Aviso aos amigos....

Infelizmente, há alguns meses, estou com problemas para acessar esta página. Espero solucionar em breve.
Por enquanto um abraço a todos os amigos!

11 abril 2017

Rotina



Parem de falar mal da rotina

parem com essa sina anunciada
de que tudo vai mal porque se repete.
Mentira. Bi-mentira:
não vai mal porque repete.
Parece, mas não repete
não pode repetir
É impossível!
O ser é outro
o dia é outro
a hora é outra
e ninguém é tão exato.
(...)
Elisa Lucinda.

23 fevereiro 2017

É outra a dor que dói....


Não é mentira
é outra
a dor que dói
em mim
é um projeto
de passeio
em círculo
um malogro
do objeto
em foco
a intensidade
de luz
de tarde
no jardim
é outra
outra a dor que dói.

Ana Cristina Cesar.

27 dezembro 2016

Um dia...


"Talvez um dia todos nós amigos iremos nos separar, sentiremos saudade de todas as conversas jogadas fora, dos sonhos que tivemos! Os dias vão passar, meses, anos, até esse contato se tornar cada vez mais raro... 
Um dia nossos filhos verão aquelas fotos e perguntarão quem são essas pessoas.
Saudade vai bater e com os olhos cheios de lágrimas diremos: 
Foi com eles que vivemos os melhores momentos de nossa vida..."


10 dezembro 2016

Natal, Ano Novo....tudo outra vez!



O Ano está Velho. 
Viu muito, muito amou, muito aprendeu, esqueceu o que havia de ser esquecido, sofreu e chorou. 
E riu, riu de puro contentamento. 
E riu pelas ruas e pelas praças das canções e dos amigos. 
E abraçou os poetas e os sonhadores e os puros e os que foram chegando às suas casas de todos os lugares. 
E deu palavras muitas e vozes cantantes e histórias que inventou porque as viveu. 
Gritou também quando foi urgente gritar que sempre a indignidade rejeitou e escorraçou da sua porta e das portas dos deserdados. 
O Ano é velho e não é santo. 
Também soube zurzir e desprezar e apagar se foi preciso. 
Aos ingratos, aos tolos, aos medíocres, aos falsos, disse 
Não, definitivamente. 
O Ano é Velho e gosta do seu nome. 
Será novo outra vez. 
A caminho de ser velho, de mais saber, de mais fazer, de mais amar. 
Na roda da vida, eu sou o novo e o velho de todos os meus anos.

Licínia Quitério.
Imagem n.1 de Celso Dias em Cascavel-PR.

19 outubro 2016

Somos....


Somos traços, rabiscos, riscos, sinais.
Somos centelha, faíscas, chispas.
Somos aromas, sensações, emoções, palavras.
Somos tudo e somos nada.
Somos mistura, somos substância.
Somos o que acreditamos.

Rosiana Carvalho



26 agosto 2016

As coisas mais simples


As coisas mais simples, ouço-as no intervalo do vento
Quando um simples bater da chuva nos vidros
Rompe o silêncio da noite e o seu ritmo se sobrepõe 
Ao das palavras. 
Por vezes, é uma voz cansada que repete 
Incansavelmente o que a noite ensina a quem vive.
De outras vezes, corre, apressada, 
Atropelando sentidos 
E frases como se quisese chegar ao fim,
Mais depressa do que a madrugada.
São coisas simples como a areia que se apanha, 
E escorre por entre os dedos enquanto 
Os olhos procuram 
Uma linha nítida no horizonte
Ou são as coisas que subitamente lembramos,
Quando o sol emerge num breve rasgão de nuvem.
Estas são as coisas que passam quanto o vento fica
E são elas que tentamos lembrar, como 
se as tivéssemos ouvido , 
E o ruído da chuva nos vidros
Não tivesse apagado a sua voz.

Nuno Júdice.





06 julho 2016

Solidão...


Há solidão na casa sem bulha,
sem notícias, sem verde, sem crianças.
E se algo há quebrado nesta tarde,
que desce e que range,
são dois velhos caminhos brancos, curvos.
Por eles segue meu coração, caminhando.

César Vallejo.



29 maio 2016

Quando....



Quando os rios secarem e as tempestades
Forem sopro e bálsamo sobre a gretada pele
E a mácula se erguer em flor de inocência
E os olhos magoados forem poema e bailado
E um sorriso límpido enfeitar as linhas do rosto
Como cinzel de límpidas palavras.

E o silêncio se abrir e a música for
Som de cristal. Dedos em movimento subtil
Na vibração da noite. E todos os enganos forem
Festivo encontro...

Inventarei então todos os nomes e
Deporei a pura essência dos dias peregrinos
Em que enlaço e colho o deslumbramento
Como dádiva, transgressão e fonte
Em que ardendo me digo...

Manuel Veiga.

02 maio 2016

Numa tarde outono....


Contente de me dar como as gaivotas
bebo o outono e a tarde arrefecida.
Perfeito o céu, perfeito o mar, e este amor
por mais que digam é perfeito como a vida.
Tenho tristezas como toda a gente.
E como toda a gente quero alegria.
Mas hoje sou dum céu que tem gaivotas,
leve o diabo essa morte dia a dia.

Eugénio de Andrade.





08 março 2016

Mulherão - Feliz dia das mulheres!



Peça para um homem descrever um mulherão.
Ele imediatamente vai falar no tamanho dos seios,
na medida da cintura, no volume dos lábios,
nas pernas, bumbum e cor dos olhos.
Ou vai dizer que tem de ser loira, 1,80m,
siliconada, sorriso colgate...
Agora pergunte para uma mulher o que ela considera
um mulherão e você vai descobrir que tem uma em cada esquina.
Mulherão é aquela que pega dois ônibus para ir para o trabalho
e mais dois para voltar, e quando chega em casa,
encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome.



Mulherão é aquela que vai de madrugada para a fila garantir
matrícula na escola, e aquela aposentada que passa horas
em pé na fila do banco para buscar uma pensão de 100 reais mensais.
Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários
de segunda à sexta, e uma família todos os dias da semana.
Mulherão é aquela que sai do trabalho e vai para a faculdade
estudar até às 24 horas para ter uma vida mais digna...
Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme
enquanto ele não chega, e que de manhã bem cedo já está de pé, esquentando o leite.



Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo,
é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva,
é quem opera pacientes, é quem lava roupa para fora,
é quem bota a mesa, cozinha o feijão e
à tarde trabalha atrás de um balcão.
Mulherão é quem cria os filhos sozinha,
quem dá expediente de 8 horas e
enfrenta menopausa, TPM e menstruação.


Mulherão é quem sabe onde cada coisa está,
o que cada filho sente e qual o melhor remédio para azia.
Marias, Patrícias, Anas, Luanas, Sheilas,Vitórias:
mulheres nota 10 no quesito lindas de morrer,
mas mulherão é quem mata um leão por dia para sobreviver.


Feliz Dia das Mulheres!
Martha Medeiros.

04 fevereiro 2016

Ninguém tem culpa




Ninguém tem culpa
Daquilo que não fomos!
Não houve erros,
Nem cálculos falhados
Sobre a estepe de papel.
Apenas,
Não somos os calculistas
Porém os calculados,
Não somos os desenhistas
Mas os desenhados,
E muito menos escrevemos versos
E sim somos escritos.
Ninguém é culpado de nada
Neste estranhar constante.
Ao longe, uma chuva fina
Molha aquilo que não fomos.



Paulo Bomfim.


13 janeiro 2016

Bom mesmo...


Bom mesmo é deixar-se ser rio. 
Correr de forma transparente nossas crenças, 
abençoando a cada dia amanhecido nossa sorte, 
agradecendo a fluidez da vida, 
mergulhando nossas atitudes com cuidado, 
no raso, na margem e depois disso jogar-se 
em águas profundas sem temer o curso da historia. 
Não afunda quem aponta pra fé e rema. 
Virar oceano é o primeiro passo para o rio que beija o mar.

Lilian Vereza.




31 dezembro 2015

Feliz Ano Novo - feliz 2016!


É tempo de pesquisar no tempo
uma estrela nova, um sorriso;
de dizer à nuvem: sê escultura;
e à escultura: sê nuvem.
Tempo de desejar, tempo de pensar
madura e docemente o bom tempo de acontecer
(e mesmo não acontecendo fica desejado),
pássaro-mensageiro, traço
entre vida e esperança
como satélite no espaço.

Carlos Drummond de Andrade.


19 dezembro 2015

Feliz Natal!


Para o Natal
convém rearrumar
o coração,
buscar a noite
mais escura,
mais longínqua
e estrelada,
onde na infância
tudo era assombro.
Para o Natal
só o que couber
no coração:
as coisas mais etéreas,
insubstanciais,
o dom do amor,
da amizade.
Que as linhas da mão
se transformem
em barco
e nos ajudem
a atravessar a fronteira
que nos separa
do outro.
Para o Natal convém
buscar a luz
antes do seu nascimento
e abraçar a vida.

Roseana Murray.

01 dezembro 2015

......


Meu trabalho é amar o mundo.
Aqui os girassóis, ali o beija flor -
Iguais na busca da doçura.
Aqui o fermento crescendo; ali as ameixas azuis.
Aqui o marisco fundo na areia cintilante.
Minhas botas estão velhas? Meu casaco rasgado?
Não sou mais jovem, mas ainda menos que perfeita? 
Deixa que eu tenha em mente o que importa
que é meu trabalho,
que é quase só ficar de pé e aprender a me
espantar.


Mary Oliver.


08 novembro 2015

Não chores...



Não chores diante do meu túmulo
Eu não estou lá
Eu não durmo
Eu sou os mil ventos que sopram
Eu sou o diamante que cintila na neve
Eu sou o sol nos grãos maduros
Eu sou a suave chuva de outono
E quando acordares no silêncio da manhã
Eu sou a prontidão inspiradora
Das aves tranquilas circulando em voo
Eu sou as estrelas que brilham suave na noite
Não chores diante do meu túmulo
Eu não estou lá
Eu não morri.

Mary Elizabeth Fry.



06 outubro 2015

Como a rosa...


Como a rosa, não te
turve um pensamento.
Não é para ti a vida
que te vem de dentro.
Beleza que a tenha
ontem a seu tempo.
Que teu segredo se guarde
só na tua aparência.
Passados não te ofereçam
seu inquietante mistério.
Lembranças não embaciem
o vidro de teus sonhos.
Como bela pode ser
a flor que tem lembranças.

José Hierro.





14 setembro 2015

Abençoada seja a leveza...


Abençoadas sejam as surpresas risonhas do caminho.
As belezas que se mostram sem fazer suspense. 
As afeições compartilhadas sem esforço. 
As vezes em que a vida nos tira pra dançar
sem nos dar tempo de recusar o convite. 
As maravilhas todas da natureza, sempre surpreendentes, 
à espera da nossa entrega apreciativa. 
A compreensão que floresce, clara e mansa, 
quando os olhos que veem são da bondade. 
Abençoados sejam os presentes fáceis de serem abertos. 
Os encantos que desnudam o erotismo da alma.
Os momentos felizes que passam longe das catracas da expectativa.
Os improvisos bons que desmancham o 
penteado arrumadinho dos roteiros da gente.
Os diálogos que acontecem no idioma pátrio do coração. 
Abençoada seja a leveza...

Ana Jácomo.






31 agosto 2015

Mãos e Pés


Ainda jovem eu pulava 
as pedras do rio, sentia
sua dureza em meus pés,
as nuvens corriam junto
comigo, céu e terra
me esmagavam em seu abraço
e meu corpo latejava
com os dias que ainda existiriam.

Aquelas pedras se inscreveram
profundamente em minha pele,
são as minhas consoantes em dias de espera.
Mergulhava as mãos na água fria
e minhas linhas da mão se desfaziam,
corriam junto com o rio,
quando ainda era jovem.

Hoje meus pés gostam de caminhar
sobre a névoa, a fina película
de irrealidade que cobre a vida,
e minhas mãos tentam apreender
o voo das borboletas.

Roseana Murray.



Quem sou eu

Minha foto
Gaúcha, nos pampas nascida Um grande sonho acalentei Morar numa ilha encantada Cheia de bruxas e fadas. Nessa terra cheia de graça Onde se juntam todas as raças, Minha ilha lança ao poente O azul espelhado da lagoa, O verde silêncio das montanhas, O rumorejar de um mar azul Que beija apaixonado a areia da Minha ilha de renda poética. Não importa se há sol ou chuva, A mágica ilha é sempre azul, Fica gravada na alma e Quem aqui vem sempre vai voltar, Para descobrir novos caminhos, Novos destinos, pois Esta magia nunca irá acabar.
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