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31 dezembro 2015

Feliz Ano Novo - feliz 2016!


É tempo de pesquisar no tempo
uma estrela nova, um sorriso;
de dizer à nuvem: sê escultura;
e à escultura: sê nuvem.
Tempo de desejar, tempo de pensar
madura e docemente o bom tempo de acontecer
(e mesmo não acontecendo fica desejado),
pássaro-mensageiro, traço
entre vida e esperança
como satélite no espaço.

Carlos Drummond de Andrade.


19 dezembro 2015

Feliz Natal!


Para o Natal
convém rearrumar
o coração,
buscar a noite
mais escura,
mais longínqua
e estrelada,
onde na infância
tudo era assombro.
Para o Natal
só o que couber
no coração:
as coisas mais etéreas,
insubstanciais,
o dom do amor,
da amizade.
Que as linhas da mão
se transformem
em barco
e nos ajudem
a atravessar a fronteira
que nos separa
do outro.
Para o Natal convém
buscar a luz
antes do seu nascimento
e abraçar a vida.

Roseana Murray.

01 dezembro 2015

......


Meu trabalho é amar o mundo.
Aqui os girassóis, ali o beija flor -
Iguais na busca da doçura.
Aqui o fermento crescendo; ali as ameixas azuis.
Aqui o marisco fundo na areia cintilante.
Minhas botas estão velhas? Meu casaco rasgado?
Não sou mais jovem, mas ainda menos que perfeita? 
Deixa que eu tenha em mente o que importa
que é meu trabalho,
que é quase só ficar de pé e aprender a me
espantar.


Mary Oliver.


08 novembro 2015

Não chores...



Não chores diante do meu túmulo
Eu não estou lá
Eu não durmo
Eu sou os mil ventos que sopram
Eu sou o diamante que cintila na neve
Eu sou o sol nos grãos maduros
Eu sou a suave chuva de outono
E quando acordares no silêncio da manhã
Eu sou a prontidão inspiradora
Das aves tranquilas circulando em voo
Eu sou as estrelas que brilham suave na noite
Não chores diante do meu túmulo
Eu não estou lá
Eu não morri.

Mary Elizabeth Fry.



06 outubro 2015

Como a rosa...


Como a rosa, não te
turve um pensamento.
Não é para ti a vida
que te vem de dentro.
Beleza que a tenha
ontem a seu tempo.
Que teu segredo se guarde
só na tua aparência.
Passados não te ofereçam
seu inquietante mistério.
Lembranças não embaciem
o vidro de teus sonhos.
Como bela pode ser
a flor que tem lembranças.

José Hierro.





14 setembro 2015

Abençoada seja a leveza...


Abençoadas sejam as surpresas risonhas do caminho.
As belezas que se mostram sem fazer suspense. 
As afeições compartilhadas sem esforço. 
As vezes em que a vida nos tira pra dançar
sem nos dar tempo de recusar o convite. 
As maravilhas todas da natureza, sempre surpreendentes, 
à espera da nossa entrega apreciativa. 
A compreensão que floresce, clara e mansa, 
quando os olhos que veem são da bondade. 
Abençoados sejam os presentes fáceis de serem abertos. 
Os encantos que desnudam o erotismo da alma.
Os momentos felizes que passam longe das catracas da expectativa.
Os improvisos bons que desmancham o 
penteado arrumadinho dos roteiros da gente.
Os diálogos que acontecem no idioma pátrio do coração. 
Abençoada seja a leveza...

Ana Jácomo.






31 agosto 2015

Mãos e Pés


Ainda jovem eu pulava 
as pedras do rio, sentia
sua dureza em meus pés,
as nuvens corriam junto
comigo, céu e terra
me esmagavam em seu abraço
e meu corpo latejava
com os dias que ainda existiriam.

Aquelas pedras se inscreveram
profundamente em minha pele,
são as minhas consoantes em dias de espera.
Mergulhava as mãos na água fria
e minhas linhas da mão se desfaziam,
corriam junto com o rio,
quando ainda era jovem.

Hoje meus pés gostam de caminhar
sobre a névoa, a fina película
de irrealidade que cobre a vida,
e minhas mãos tentam apreender
o voo das borboletas.

Roseana Murray.



16 agosto 2015

Há sempre tempo...


Há sempre tempo para um sonho.
É sempre tempo de deixar-se levar pela paixão
e arrastar para o desejo.
É possível sempre encontrar
a força para levantar voo
e dirigir-se para o alto.
E ali, nas alturas, só ali,
podemos soltar as asas
em toda a sua extensão.
Só ali, no mais alto de nós mesmos,
no mais fundo de nossa inquietude,
podemos abrir bem os braços, e voar.

Dulce Chacón.






01 agosto 2015

Um poemeto de Mia Couto


Criança, eu sabia
suspender o tempo,
soterrar abismos
e nomear as estrelas.
Cresci,
perdi pontes,
esqueci sortilégios.


Mia Couto.




27 junho 2015

Para isso fomos feitos...


Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos: 
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Vinícius de Moraes.



04 junho 2015

Minha essência...


Nasci logo ali, onde as montanhas se agigantam 
enfeitadas de cascatas,
Assim, feito cabeleiras vivas escorrendo nas encostas,
desfazendo-se em riachos límpidos,
preguiçosos, murmurentos!
É sim!
Sou daquelas bandas!
Bem ali, onde os passarinhos bebem pingos de sereno 
na maciez molhada dos cafundós!
Não sei muito!
Aprendi  a filosofia das  pedras,
dos ninhos de curuiras,
do chá de erva santa e da novena dos sete inocentes!
Sei também,  do milho para canjica, da lua boa para semear salsinha
e cachaça na água de banhar criança novinha!
É sim! Tudo  de lá!
Logo ali, onde  flui a essência do meu eu!
(...)
Jossara Bes.





19 maio 2015

Um poema de Tagore...


Quando eu era jovem, a corrente que me arrastava 
corria forte e rápida. 
A brisa da primavera derrotava-se
a si mesma, as árvores ardiam em flores e
os pássaros não dormiam, cantando sem parar.

Naveguei vertiginosamente,
Arrebatado pelo dilúvio da paixão. 
Eu não tinha tempo para ver, sentir ou deixar que
o mundo entrasse em meu ser.

Agora que a maré da juventude
Baixou e eu restei na praia, posso ouvir a
Profunda música de todas as coisas, e o céu
abre para mim o seu coração cheio de estrelas.

Tagore.



Imagem 1: Rafael Farias.

29 abril 2015

Esta tarde...


Esta tarde sou rico porque tenho
um céu todo de prata para mim,
sou o dono também desta emoção
que é saudade igualmente do passado
e uma doce alegria por tê-lo vivido.
Tudo quanto me deixou me pertence
transformado em tristeza, e o que afinal intuo
que não hei de alcançar converteu-se
num grato caudal de conformismo.
Meu patrimônio aumenta a cada instante
com aquilo que vou perdendo, porque quem vive perde,
e perder significa ter tido.
Não tenho já ambições, mas tenho
um projeto ambicioso como nunca tive:
aprender a viver sem ambição,
em paz por fim comigo e com o mundo.

Vicente Gallego.




15 abril 2015

Valsas de Esquina de Mignone



Só um pássaro
e seu peso de orvalho tocando
o chão como se foram teclas.
Passa onde a graça
ilumina a cidade de ferro
subitamente atenta a essa beleza.

Nos jardins teimam rosas
delicadamente.
Violetas africanas
salpicam de ouro
muros escuros
e as princesas purpúreas
espiam dos balcões verdes
nas paredes florescidas:
dançam pétalas
dança a vida
nos jardins contentes
não termina a partitura
que se repete
sempre.

Dora Ferreira da Silva.


16 março 2015

Quando chove...


Quando chove – entre nós – é sinal de um milagre 
que se avizinha, diz-se; 
e hoje choveu bastante. 
Cá dentro reverbera o murmúrio da chuva; 
seus traços oblíquos e líquidos, 
o seu falar intermitente. 
É pois o fio da sua úmida caligrafia, 
o redesenhar do destino a cada badalada do seu sino. 
A metamorfose, o renovar, o vivificar; 
é tudo quanto se espera depois da chuva 
preencher o chão com a sua escrita.

Álvaro Taruma.




23 fevereiro 2015

Viver


Viver era para sempre
e o tempo uma coisa
redonda
ondulando feito céu e mar
o tempo não era
perigoso mistério
entranhas de uma caverna
o tempo simplesmente 
não existia
do jeito que existe hoje
latejante urgente
irreversível.

Roseana Murray.




02 fevereiro 2015

É na areia que está o meu carnaval...


É na areia que está o meu carnaval,
é no mar que estão as serpentinas,
brancas ondas a quebrar na praia.
Aqui encontro a magia da poesia,
vestindo fantasia que a luz do sol irradia.

No meu carnaval não tem máscaras!
Tem rostos, tem corpos bronzeados
desfilando naturais alegorias na praia,
que vem do mar, que vem da areia
desfilando como netunos e sereias.

É a palavra que brinca na praia,
no balanço das ondas faz o samba enredo,
o carro abre alas é um navio pirata
assaltando um coração enfeitado
por poesia que na areia virou confete.

sonia schmorantz





04 janeiro 2015

Lembranças...




Carregamos pela vida afora
os cheiros dos encontros raros,
dos acontecimentos,
da nossa primeira casa,
do quintal, se houve quintal,
da mãe na cozinha,
dos sonhos quando acordamos.
Se houvesse uma caixa
para guardá-los, seriam
nosso tesouro.
E então, em dias de saudade,
abriríamos nossa caixa
e mergulharíamos
como num túnel do tempo.

Roseana Murray.


Images de Ademar Rocha.



Quem sou eu

Minha foto
Gaúcha, nos pampas nascida Um grande sonho acalentei Morar numa ilha encantada Cheia de bruxas e fadas. Nessa terra cheia de graça Onde se juntam todas as raças, Minha ilha lança ao poente O azul espelhado da lagoa, O verde silêncio das montanhas, O rumorejar de um mar azul Que beija apaixonado a areia da Minha ilha de renda poética. Não importa se há sol ou chuva, A mágica ilha é sempre azul, Fica gravada na alma e Quem aqui vem sempre vai voltar, Para descobrir novos caminhos, Novos destinos, pois Esta magia nunca irá acabar.
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