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28 novembro 2010

Deixa-me amar-te


Deixa-me amar-te em meus silêncios
Na calmaria do teu coração que me acolhe
E de onde se desprendem meus sonhos
Em vôos etéreos de plena liberdade

Deixa-me amar-te em minha solidão
Ainda que meus labirintos te confundam
E que teus fios generosos de compreensão
Emaranhem-se no tapete dos meus enigmas

Deixa-me amar-te sem qualquer explicação
Na ternura das tuas mãos que me sorriem
Escrevendo desejos em versos despidos
Na minha alva tez que te cobre e descobre

Deixa-me amar-te em meus segredos
Para que desvendes o que também desconheço
A alma dos meus abismos onde anoiteço
E meus olhos adormecem embalados pelo mistério

Deixa-me amar-te em tuas demoras, longas horas
Em que meu corpo se veste de céu à tua espera
E minhas mãos em frenesi acendem estrelas
Para alumiar-te, ainda que ausente estejas…

Fernanda Guimarães


Imagens da Praia do Estaleiro

23 novembro 2010

Ergo uma Rosa


Ergo uma rosa, e tudo se ilumina
Como a lua não faz nem o sol pode:
Cobra de luz ardente e enroscada
Ou ventos de cabelos que sacode.

Ergo uma rosa, e grito a quantas aves
O céu pontua de ninhos e de cantos,
Bato no chão a ordem que decide
A união dos demos e dos santos.

Ergo uma rosa, um corpo e um destino
Contra o frio da noite que se atreve,
E da seiva da rosa e do meu sangue
Construo perenidade em vida breve

Ergo uma rosa, e deixo, e abandono
Quanto me dói de mágoas e assombros
Ergo uma rosa, sim, e ouço a vida
Neste cantar das aves nos meus ombros.

(José Saramago)



21 novembro 2010

Estava escrito


Estava escrito
que chegarias na voz do vento
como um doce lamento
em busca de sons e de luz...

Trarias nas madrugadas dispersas
o inevitável sentido
nos grãos silábicos do tempo
que teu poema traduz...

Serias a saudade sem sombras,
a madrugada esvaída
o cheiro azul de um remanso
onde a esperança descansa.

Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 21/10/10
Código do Texto: T2570854



18 novembro 2010

Poema em nós


Meu poema não é feito da água dos rios, 
mas das lágrimas que as águas dos rios não levam. 
Tenho um poema de urgências que me reinventa 
à cada margem da vida. 
Tudo em mim é líquido. 
Meu poema é líquido. 
Meus oceanos vazam enquanto nado em desertos. 
Suo e sou a liquidez das manhãs 
transbordando incêndios em silêncios. 
Em mim, celebro um poema. 
Dentro de mim, líquido, mora um poema. 

Adriana Monteiro de Barros 

(jornalista e poetisa carioca contemporânea) 



Imagens do sul da ilha, Florianópolis, SC

16 novembro 2010

Um Poema de Amor





Não sei onde estás, se falas 
ou se apenas olhas o horizonte, 
que pode ser apenas o de uma 
parede de quarto.
Mas sei que 
uma sombra se demora contigo, 
quando me pergunto onde estás: 
uma inquietação que atravessa 
o espaço entre mim e ti, e 
te rouba as certezas de hoje, 
como a mim me dá este poema. 


Nuno Júdice



13 novembro 2010

Poema de Afonso Estebanez



Fica a paz de um canto triste
dos riachos que vão embora,
vem a tarde e o canto insiste
nos meus ouvidos de aurora.

Resta uma chama encostada
numa sombra sem memória,
fica a noite e um quase nada
do que fora a minha história.

Não sou mais aquela infância
debruçada em teus terraços.
Vais!... E deixas a Esperança
desmaiada nos meus braços.

O homem nasce e vira glória
quando é pedra e vira a flor:
Deus então mais comemora
quando é barro e vira amor.

Afonso Estebanez 



10 novembro 2010

Retrato em luar


Nunca tive os olhos tão claros
e o sorriso em tanta loucura.
Sinto-me toda igual às arvores: 
solitária, perfeita e pura.

Aqui estão meus olhos nas flores,
meus braços ao longo dos ramos: 
e, no vago rumor das fontes,
uma voz de amor que sonhamos.

Cecília Meireles



06 novembro 2010

Relativamente


Há hoje um silêncio
que é feito de horizontes.
Minha mente, antes nua,
percebendo preencheu-se
dessa poesia indispensável,
que vive além dos telhados.
Minha alma já sentiu
não haver urgência alguma
para as folhas amarelas
que se desprendem das árvores,
forrando as pedras das ruas.

Adoro esse silêncio...
nele palavras não se vergam,
voam reto em brancas nuvens,...
voltam leves aos meus dedos,
precedidas de altos sonhos.

Ah! Quem dera fosse
também indivisível...
o breve tempo das tardes,
onde todas as frases são versos
nos corpos entrelaçados.

Rita Costa - 30/01/2007, Rio de Janeiro




04 novembro 2010

Poema de Espinheira Filho


Rumina um sonho: gado sonolento
entre as ondas que o vento faz no pasto,
que é vasto como o gesto desse vento
amplo como o horizonte vasto, vasto.

Há deuses nas colinas desse vento
e nas fontes profundas desse pasto
que são, assim, mais verdes e mais vastos
que quaisquer pastos, horizonte, ventos.

Rumina um sonho – e sonhos nesse sonho,
que sonham outros mais. Na tarde amena,
tudo é sonho de deuses e rebanhos.

E ele se deixa navegar, sereno,
nos vastos pastos ventos horizontes
e, denso, de alma toda, escreve um poema.

Ruy Espinheira Filho



02 novembro 2010

Às vezes...


Às vezes me acontece algo assim
Tipo cisco no olho
Sapato apertado
Mal estar na alma
É como um pássaro na gaiola
Um deserto sem água
Um tiro no escuro
Um palhaço sem platéia
Um nó entalado na garganta
Um incômodo visceral
É como se um silêncio profundo
Engolisse meu viver
Mas tudo isso é clichê
E eu páro por aqui...

Lou Witt





Quem sou eu

Minha foto
Gaúcha, nos pampas nascida Um grande sonho acalentei Morar numa ilha encantada Cheia de bruxas e fadas. Nessa terra cheia de graça Onde se juntam todas as raças, Minha ilha lança ao poente O azul espelhado da lagoa, O verde silêncio das montanhas, O rumorejar de um mar azul Que beija apaixonado a areia da Minha ilha de renda poética. Não importa se há sol ou chuva, A mágica ilha é sempre azul, Fica gravada na alma e Quem aqui vem sempre vai voltar, Para descobrir novos caminhos, Novos destinos, pois Esta magia nunca irá acabar.
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