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29 outubro 2011

A você, com amor


O amor é o murmúrio da terra 
quando as estrelas se apagam 
e os ventos da aurora vagam 
no nascimento do dia... 
O ridente abandono, 
a rútila alegria 
dos lábios, da fonte 
e da onda que arremete 
do mar... 

O amor é a memória 
que o tempo não mata, 
a canção bem-amada 
feliz e absurda... 

E a música inaudível... 

O silêncio que treme 
e parece ocupar 
o coração que freme 
quando a melodia 
do canto de um pássaro 
parece ficar... 

O amor é Deus em plenitude 
a infinita medida 
das dádivas que vêm 
com o sol e com a chuva 
seja na montanha 
seja na planura 
a chuva que corre 
e o tesouro armazenado 
no fim do arco-íris.

Vinicius de Moraes




28 outubro 2011

Capricciosa



É claro que estou exposto

eu como todos outros

animais às intempéries
que cedo ou tarde nos ferem;
mas aqui a noite, seda,
suavemente me enleia:
espelhos olhares vinhos
uvas cachos rosas risos
e ali, do lado de lá
das lâminas de cristal
tão tranquila e cintilante
quanto o céu, sonha a cidade.


Desperta-me um celular:
a morte também tem arte.


Antônio Cícero


Lagoa da Conceição

25 outubro 2011

Delicadeza


A alma é invisível,
um anjo é invisível,
o vento é invisível,
o pensamento é invisível,
e no entanto,
com delicadeza,
se pode enxergar a alma,
se pode adivinhar o anjo,
se pode sentir o vento,
se pode mudar o mundo com alguns
pensamentos…


Roseana Murray

Praia do Forte

18 outubro 2011

Guardados da Infância


Atenção: Compro gavetas,
armários, cômodas e baús.
Preciso guardar minha infância:
os jogos de amarelinha,
os segredos que me contaram
lá no fundo do quintal.

Preciso guardar minhas lembranças:
as viagens que não fiz,
ciranda, cirandinha
e o gosto de aventura
que havia nas manhãs.

Preciso guardar meus talismãs:
o anel que tu me deste,
o amor que tu me tinhas
e as histórias que eu vivi...

Roseana Murray


Imagens da Fortaleza da Barra

16 outubro 2011

Um breve olhar


Lá em cima, no ar
Sobre a monotonia destas casas
Sulcando, sereníssimas, os céus,
Abrem a larga rima das suas asas,
Lenços brancos do azul, dizendo adeus
Ao vento e ao mar.
Eu fico a vê-las
E meus olhos, de as verem, vão partindo
E fugindo com elas;
E a segui-las eu penso,
Enquanto o olhar no azul se espraia e prega,
Que há uma graça, que há um sonho imenso
Em tudo o que flutua e que navega…
Para onde se desterram as gaivotas,
Contra o vento vogando, altas e belas,
Essas voantes e pairantes frotas,
Essas vivas e alvas caravelas?
Vão para longe… E lá desaparecem,
Ao largo, por detrás do monte;
E os nossos olhos olham e entristecem
Com as vagas saudades que merecem
As coisas que se somem no horizonte!

Afonso Lopes Vieira



Oração para um Novo Dia


Quero que cada manhã, 
a alma desabroche do sono
como a rosa do botão, e surja, 
como a aurora do oceano, 
ao sorriso dos teus lábios,
ao gesto de tua mão. 
Quero me engrinaldar 
para a festa renovada 
com que cada dia nos convida 
a desdobrar as asas como a águia 
em demanda do sol. 
Quero crer, a cada nova aurora, 
que esta é a definitiva, 
a do encontro com a felicidade, 
a da permanência assegurada, 
a de teu sim definitivo. 

Chico Xavier



10 outubro 2011

Primavera-Verão


Ah! Primavera,...
reclame com o astro-rei
o profícuo dos versos.
Pois nem toda a culpa
é do perfume tardio das flores
ou do mar.
Culpe, se quiser,
o equador celeste
ou o colorido das cangas,...
onde o dourado proclama
ser bem mais que um palpite.
E quem me conhece sabe,...
até calço palavras;
mas se cismo poesia,
já não tardo verão.

Rita Costa


Imagens de Canasvieiras e Praia do Forte

07 outubro 2011

De volta a mim


De tanto estar a sua volta
Quase não soube voltar para mim.
De tanto me procurar em seus olhos
Acabei perdendo o foco… e a fé.
De tanto desejo, desejei por dois
Dividindo meu amor com minha ilusão
Tingindo-o de seu, perfumando-o de você.
Agora sei, o você que me habita
É tão eu que acho que estou
me apaixonando novamente,
E desta vez, por mim.

Marina Mara



05 outubro 2011

Restos


Há um resto de noite pela rua,
Que se dissolve em bruma e madrugada.
Há um resto de tédio inevitável,
Que se evola na tênue antemanhã.
Há um resto de sonho em cada passo,
Que antes de ser se foi, já não existe.
Há um resto de ontem nas calçadas,
Que foi dia de festa e fantasia.
Há um resto de mim em toda a parte,
Que nunca pude ser inteiramente.

Ildásio Tavares


Imagens da Praia da Joaquina

Quem sou eu

Minha foto
Gaúcha, nos pampas nascida Um grande sonho acalentei Morar numa ilha encantada Cheia de bruxas e fadas. Nessa terra cheia de graça Onde se juntam todas as raças, Minha ilha lança ao poente O azul espelhado da lagoa, O verde silêncio das montanhas, O rumorejar de um mar azul Que beija apaixonado a areia da Minha ilha de renda poética. Não importa se há sol ou chuva, A mágica ilha é sempre azul, Fica gravada na alma e Quem aqui vem sempre vai voltar, Para descobrir novos caminhos, Novos destinos, pois Esta magia nunca irá acabar.
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