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30 julho 2010

Janela para o mar


Olhando a tarde que se desfaz,
Na cantilena dos pássaros.
Tenho encantados os olhos
Com tanta graça e grandeza
Do dia virando noite,
Das luzes se acendendo
Nas janelas do casario,
Onde as pessoas se recolhem
Para o merecido descanso.
Coaxam sapos distantes
Cricrilam grilos brilhantes,
Salpicando com sua luz
O manto escuro da noite,
Fazendo-me sentir como é bom
Estar viva a cada dia;
Entender que a morte
É duro encargo que trazemos
A partir da concepção.
É essa certeza que faz os meus olhos
Ávidos por cenas pintadas
Na tela da natureza,
E inserta na minha voz uma prece
À Inteligência criadora
De tudo que há no universo.

Maria Hilda de J. Alão.



27 julho 2010

Terra Prometida


Poder dormir
Poder morar
Poder sair
Poder chegar
Poder viver
Bem devagar
E depois de partir poder voltar
E dizer: este aqui é o meu lugar
E poder assistir ao entardecer
E saber que vai ver o sol raiar
E ter amor e dar amor
E receber amor até não poder mais
E sem querer nenhum poder
Poder viver feliz, para se morrer em paz

Vinicius de Moraes
in Poesia completa e prosa: "Cancioneiro"


24 julho 2010

Sementes em dia de frio


Deixa que te olhe 
No dia cinza e prenhe de bruma
Que se colou espessa nos vidros
Vago reflexo que não alcanço
Ainda que a alma se expanda
E te toque.
Deixa que pense
Mesmo que seja num dia sem sol
Que o sempre não é somente palavra
De um dicionário coberto de pó
E a vida não é gazela que foge
À nossa frente.
Deixa que sinta
Como sopro leve, lábios conhecidos
Que sussurre o tempo que já esperei
A brisa que trazes nos dedos carícia
E quanto serás eterno em meu corpo
Que aguarda.
Deixa que a vida me diga de ti hoje e amanhã
Para que exista um sulco de esperança
Semente plantada em dias de frio
Na terra que piso.

http://mulher50a60.weblog.com.pt/arquivo/2006/02/semente_em_dias.html
Imagem de Jussara FL em álbum do campo
Praia dos Ingleses

22 julho 2010

Soneto Antigo



Responder a perguntas não respondo. 
Perguntas impossíveis não pergunto. 
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.

Cecília Meireles


21 julho 2010

Miragem

Nesse universo loiro e liso
meus cachos revoltos balançam
imprecisos ao vento que mareia
ondas sobre um barco de velas
rotas, marinheiros afogados
jazem na areia.
E, longe, muito longe
dançam sereias
Nesse universo de palavras vãs
o sol, da minha pele esqueceu
a chuva caiu na rosa morta
numa tentativa de acordar a manhã
E no pensamento que vagueia
marujo, barcos, sereias
que importa?
Se no vão das coisas que estão pra vir
há um desejo louco
batendo asas
E nele danço solta e leve
Penso: A vida é breve
Desfaço-me desse devaneio
E volto pra casa...

(Veronica Almeida)





15 julho 2010

Até o amor nos ensinar


Até o amor nos ensinar
dançaremos como quando dança o mar
água que por dançar se deita
sem transparência até lavarmos nossa cara
dentro da imprevista onda derradeira
do mar a água mais clara: a mais funda.
Até que a paixão nos instrua
dançaremos como se dançasse a lua
que enquanto gira sempre oculta a mesma face
até mudarmos nossa roupa
para vestirmos a máscara absoluta
da lua a face mais clara:
a outra.

Jayme Kopke


12 julho 2010

Olhar



Vaza uma luz nos olhos teus
Que atravessa pântanos e vales
Passa uma mensagem, sem que fales
Nada que chegue aos ouvidos meus.
Mas meu coração entende tudo
O que meu olhar visa em teus olhos
Sem dificuldades, sem abrolhos,
Posso captar, mesmo que mudo,
Este teu sinal, de luz somente,
Que ilumina minha escuridão
E me faz ficar feliz, contente
Como um passarinho solto à mão.

José Magno
Paisagens na rodovia entre Florianópolis e Itapema, no domingo.

10 julho 2010

Epigrama n° 1


Pousa sobre esses espetáculos infatigáveis
uma sonora ou silenciosa canção:
flor do espírito, desinteressada e efêmera.

Por ela, os homens te conhecerão:
por ela, os tempos versáteis saberão
que o mundo ficou mais belo, ainda que inutilmente,
quando por ele andou teu coração.

Cecília Meireles



07 julho 2010

OS SILÊNCIOS


Não entendo os silêncios
que tu fazes
nem aquilo que espreitas
só comigo
Se escondes a imagem
e a palavra
e adivinhas aquilo
que não digo
Se te calas
eu oiço e eu invento
Se tu foges
eu sei não te persigo
Estendo-te as mãos
dou-te a minha alma
e continuo a querer
ficar contigo.

Maria Teresa Horta




06 julho 2010

VAZIO


A vida precisa do vazio:
a lagarta dorme num vazio chamado casulo
até se transformar em borboleta.
A música precisa de um vazio
chamado silêncio para ser ouvida.
Um poema precisa do vazio
da folha de papel em branco para ser escrito.
E as pessoas, para serem belas e amadas,
precisam ter um vazio dentro delas.
A maioria acha o contrário;
pensa que o bom é ser cheio.
Essas são as pessoas que se acham
cheias de verdades e sabedoria
e falam sem parar.
São umas chatas quando não são autoritárias.
Bonitas são as pessoas que falam pouco e sabem escutar.
A essas pessoas é fácil amar.
Elas estão cheias de vazio.
E é no vazio da distância que vive a saudade...

Rubem Alvez
(Correio Popular, Caderno C, 24/02/2002)



Pensamentos de Mágoa


Boiam leves, desatentos,
Meus pensamentos de mágoa,
Como, no sono dos ventos,
As algas, cabelos lentos
Do corpo morto das águas.

Boiam como folhas mortas
À tona de águas paradas
São coisas vestindo nadas,
Pós remoinhando nas portas
Das casas abandonadas.

Sono de ser, sem remédio,
Vestígio do que não foi,
Leve mágoa, breve tédio,
Não sei se pára, se flui;
Não sei se existe ou se dói.

Fernando Pessoa


04 julho 2010

A Cor do Amor


Quando alguém perguntar
qual a cor do meu amor,
direi que tem o tom das espumas opalas
que rendam seu olhar

Talvez nuances do desejo
que acalentam o coração
nos ares das pradarias
brincando no verde vazio
poetizando uma canção

Pode ter a luz do ocaso
como a cor da liberdade
ou o tom de uma poesia
abraçada em algum lamento
semitonada de saudade

Mas tem que ter o brilho
do encontro de um olhar,
a magia da liberdade ao prender-se
e a certeza da prisão ao soltar-se


Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 12/06/10
Código do Texto: T2315496



03 julho 2010

DENTRO DOS OLHOS FECHADOS



Eu disse da espera sem palavras.
Que precisado é senão memória
se num silêncio assim virá a fonte
esperada e o desejo será tão alto
como o outro caminho do jardim
que se procura?
Acontecerá quando o vento unir
nossos ombros e tudo que não foi
será agora.
Manhãs abrirão e murcharão como
pássaros de ontem dento dos olhos
fechados.

E o tempo dormirá em nossas mãos.

Olga Savary
1954




02 julho 2010

DESIDERATA





Max Ehrmann*


Viva tranqüilamente, por entre a pressa e os ruídos, e lembre-se de quanta paz há no silêncio. Tanto quanto possível, sem se render, esteja em bons termos com as pessoas. 
Diga sua verdade calma e claramente, e ouça os outros, mesmo os mais medíocres e ignorantes – eles também têm a sua história.
Evite as pessoas espalhafatosas e agressivas, pois essas são um insulto ao espírito. Não se compare com os outros, para não se tornar vaidoso ou amargo, e saiba: sempre haverá pessoas melhores e piores que você. Desfrute tanto de suas realizações quanto de seus planos.
Cultive seu trabalho, mesmo que ele seja humilde; esse é um bem real, frente às variações da sorte. Seja cauteloso em seus negócios, pois o mundo é cheio de armadilhas. Mas não deixe que isso o torne cego para a virtude, que está sempre presente; muitas pessoas lutam por ideais nobres e, por toda a parte, a vida é sempre exemplo de heroísmo.
Seja sempre você mesmo. E sobretudo nunca finja afeição. Nem seja cínico em relação ao amor, pois, apesar de toda a aridez e desencanto, ele é tão perene quanto a relva.
Aceite serenamente os ensinamentos do passar dos anos, renunciando suavemente àquilo que pertence à juventude. Fortaleça seu espírito para que ele possa protegê-lo diante de uma súbita infelicidade. Não antecipe sofrimentos pois muitos temores são apenas fruto do cansaço e da solidão. Mesmo seguindo uma disciplina rigorosa, seja leniente consigo.
Você é filho do Universo, tanto quanto as árvores e as estrelas; e tem o direito de estar aqui. E mesmo que isso não seja muito claro para você, não tenha dúvida de que o Universo segue na direção certa.
Portanto, esteja em paz com DEUS, não importa a maneira como você O concebe, e sejam quais forem as suas lutas e aspirações, na terrível confusão que é a vida, fique em paz com sua alma.
Pois, apesar de toda a falsidade e sonhos desfeitos, este ainda é um lindo mundo. Seja cauteloso. Lute para ser feliz.

* Max Ehrmann, poeta e advogado escreveu este texto em 1927.




Quem sou eu

Minha foto
Gaúcha, nos pampas nascida Um grande sonho acalentei Morar numa ilha encantada Cheia de bruxas e fadas. Nessa terra cheia de graça Onde se juntam todas as raças, Minha ilha lança ao poente O azul espelhado da lagoa, O verde silêncio das montanhas, O rumorejar de um mar azul Que beija apaixonado a areia da Minha ilha de renda poética. Não importa se há sol ou chuva, A mágica ilha é sempre azul, Fica gravada na alma e Quem aqui vem sempre vai voltar, Para descobrir novos caminhos, Novos destinos, pois Esta magia nunca irá acabar.
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