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26 outubro 2013

Das coisas perecíveis...


As coisas que amamos
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra maneira se tornam absoluta
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.*
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.



Carlos Drummond de Andrade




20 outubro 2013

Homenagem à Vinicius de Moraes no seu centenário


Amo andar nessas tardes...
Sinto-me penetrando o sereno vazio de tudo
Como um raio de luz.
Cresço, projeto-me ao infinito, agitando
Para consolar as árvores angustiadas
E acalmar os pinheiros moribundos.
Desço aos vales como uma sombra de montanha
Buscando poesia nos rios parados.

Sou como o bom-pastor da natureza
Que recolhe a alma do seu rebanho
No agasalho da sua alma...E amo voltar
Quando tudo não é mais que uma saudade
Do momento suspenso que foi...

Amo voltar quando a noite palpita
Nas primeiras estrelas claras...
Amo vir com a aragem que começa a descer das montanhas
Trazendo cheiros agrestes de selva...
E pelos caminhos já percorridos, voltando com a noite
Amo sonhar...

Vinícius de Moraes


15 outubro 2013

Poente no meu jardim...


Poente no meu jardim... O olhar profundo
Alongo sobre as árvores vazias,
Essas em cujo espírito infecundo
Soluçam silenciosas agonias.

Assim estéreis, mansas e sombrias,
Sugerem à emoção em que as circundo
Todas as dolorosas utopias
De todos os filósofos do mundo.

Sugerem... Seus destinos são vizinhos:
Ambas, não dando frutos, abrem ninhos
Ao viandante exânime que as olhe.

Ninhos, onde vencida de fadiga,
A alma ingênua dos pássaros se abriga
E a tristeza dos homens se recolhe...

Raul de Leoni







07 outubro 2013

Nuvem errante...




Nuvem errante, peregrino vaso
que flutuas no espaço eternamente,
ora dourado pelo sol no ocaso,
ora fendido pelo sol nascente.

Essas formas fantásticas que assumes,
batida pela luz e pelos ventos,
nuvem feita de orvalho e de perfumes,
são imagem dos nossos pensamentos.

Amor ou ilusão que vais levando,
no seio onde germinam primaveras,
detém-te nuvem, deixa-me, sonhando,
nutrir-me na visão destas quimeras.

Augusto de Lima


29 setembro 2013

Hoje!



Hoje!
Serei apenas versos,
abandonarei o chão
para voar junto do meu espírito...
E sonharei sonhos 
que você também sonha,
caminharei por lugares 
que você também deseja
pra nos encontrarmos aqui
diante do milagre 
chamado poesia.


Sirlei L. Passolongo



21 setembro 2013

Quero escrever...


Quero escrever sem pensar.
Que um verso consolador
Venha vindo impressentido
Como o princípio do amor.

Quero escrever sem saber,
Sem saber o que dizer,
Quero escrever urna coisa
Que não se possa entender,

Mas que tenha um ar de graça,
De pureza, de inocência,
De doçura na desgraça,
De descanso na inconsciência.

Sinto que a arte já me cansa
E só me resta a esperança
De me esquecer do que sou
E tornar a ser criança.

Dante Milano


16 setembro 2013

O silêncio


O silêncio é uma caixa
imensa onde cabem
e ressoam
todas as palavras
e há que pescá-las com cuidado.
Existem as redondas
e macias,
palavras vaga-lumes,
que iluminam a boca
de amor e doçura,
e outras com espinhos,
essa é melhor deixar
no fundo da caixa do mundo.
Dentro do silêncio
as palavras iluminadas
nadam
como peixes dourados.


Roseana Murray



07 setembro 2013

Despedida



Entre o reflexo de um ocaso 
Que o tempo olvida, 
Acontece sem abraço 
Uma despedida... 
E a vida prossegue 
Com a cor do momento, 
Porque o tempo não ama, 
Não chora e não sente... 
E invoco memórias 
Entardecidas de saudade, 
Histórias de vida 
Que são só minhas... 
E no espectro solar
Que depura um ocaso, 
Componho um abraço
De despedida!

Ana Martins



30 agosto 2013

Lua



Lua, farol que voa.
Estância
onde se aninham
e dormem os luzeiros.
Coalho de leite, alvorada
dos anjos
tecendo a madrugada.
Branca cravina
de noites solitárias;
bússola do viajante,
rio de leite
que desce
ao monte para abeberar o gado.
Lágrima de prata
que Deus derramou um dia
quando sonhava.

Luis Alberto Calderón


22 agosto 2013

Às vezes...


Às vezes, quando um pássaro chama
ou entre os ramos algum vento sopra
ou nalgum pátio longe ladra um cão,
por longo tempo eu escuto e me calo.

Minha alma voa para o passado,
para onde, há mil esquecidos anos,
o pássaro e o vento que soprava
mais pareciam meus irmãos e eu.

Minha alma faz-se uma árvore,
um animal, um tecido de nuvens...
Transfigurada e estranha, volta a mim
e me interroga. Que resposta lhe darei?

Hermann Hesse


12 agosto 2013

Captura o tempo...


Captura o Tempo a Vida.
Ela o prende em seu olhar
por brevíssimos segundos .
Segue o Tempo
levando consigo essa saudade
e, dela, falando em toda parte...
Eis a razão da memória:
saudade da Vida.
Eis o motivo da chuva:
melancolia do Tempo.

Tânia Anjos



04 agosto 2013

É isto que eu quero



É isto que eu quero na minha vida:
este esplendor de arco-íris colorindo a tarde,
a chuva, o céu gris.

Mesmo quando se desfaz,
o arco de cores ainda pinta o remoto azul,
as nuvens cinzas, a se esfiaparem pela imensidão.

Eu volto o pensamento,
a vista para a penumbra do interior,
neste fim de tarde, neste fim de dia.

E sinto, permanente, imanente,
o arco no céu, as cores em mim.

Aglaia Souza



29 julho 2013

Quando...



Quando foi aquele tempo 
em que eu me olhava, sonhando, 
nas águas desta bacia 
e via o rosto da moça 
que, do fundo, me sorria? 

Onde foi parar o sonho? 
Pra onde foi a magia? 
Pra onde o rosto da moça 
que, do fundo, me sorria? 

Em que águas refletida 
sorri agora, tardia, 
a face que me sorria 
lá no fundo da bacia? 

Maria Thereza Noronha

Imagem 1 Tela de Jim Farrant
Imagem 2 Tela de Alexander Titarenko

25 julho 2013

O mar....



Troco confidências com o mar
Reclamando meus dissabores,
Misturando lágrimas com as águas
E gargalhando com as ondas
Que se quebram na minha alma.
O cansaço atordoa-me a coragem, a sensatez
E mascaro o tempo que passa
Sentada no crepúsculo da vida
Onde em tudo
Existe apenas o nada!

Conceição Bentes

*As imagens são do Morro Cambirela, região de Florianópolis,
coberto pela neve que nos visitou esta semana.

Foto de Márcio Alves
Foto de André Rosa

20 julho 2013

As flores



As flores  são formas 
de que a pintura se serve 
para disfarçar a natureza.


Por isso é que 
no perfil duma flor 
está também pintado 
o seu perfume. 

Albano Martins



14 julho 2013

Chuva


(...)
A chuva chove ligeira,
Nos nossos olhos e molha.
O vento venta ventado,
Nos vidros que se embalançam,
Nas plantas que se desdobram.
Chove nas praias desertas,
Chove no mar que está cinza,
Chove no asfalto negro,
Chove nos corações.
Chove em cada alma,
Em cada refúgio chove;
E quando olhaste em mim,
Com os olhos que me seguiam,
Enquanto a chuva caía
No meu coração chovia
A chuva do teu olhar.

Ana Cristina César


Ana Cristina César

06 julho 2013

Caminho do mar



Não deixo de amar porque envelheço,
envelheço se deixo de amar.

Não deixo de querer porque enlouqueço,
enlouqueço se deixo de querer.

A vida me leva e traz, me sobe e desce,
no céu celeste;
a morte me aguarda um dia, sem simpatia,
no fim da via. 
.
Mas, vou levando a poesia, à luz do dia,
anotando andanças, sem nostalgia;
do sol que me guia, pelas profecias,
descubro a prática desta teoria.

Não deixo de escrevinhar porque me canso,
me canso se deixo de escrevinhar.

Onde o caminho do mar?
Onde partir e chegar?
Onde encontrar seu lugar?

Me diz logo...
Onde o caminho do mar? 

(Raul de Taunay, Trípoli, 7 de julho de 2013)


29 junho 2013

A manhã começa verde...


A manhã começa verde:
pulo da cama,
estendo os braços
para apagar os últimos
vestígios de um sonho,
mordo a maçã,
arrumo o mapa
do meu coração
e parto como um barco
de madeira antiga
para as surpresas do dia.
Pousada no umbral da porta,
a Esperança me olha
como folha verde na água,
como esmeralda encantada.


Roseana Murray 


27 junho 2013

Uma casa...



Uma casa deve ter varandas
para sonhar, cantos para chorar,
quartos para os segredos
e a ambivalência.

Um amor precisa de espaço para voar,
liberdade para querer ficar,
alegria, e algum desassossego
contra o tédio.

Não se esqueçam os danos a cobrir,
o medo de partir, e o dom de surpreender
que é a sua essência.

Lia Luft


22 junho 2013

Apesar de você...


Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente...


Chico  Buarque


Imagens da imprensa de Florianópolis

Quem sou eu

Minha foto
Gaúcha, nos pampas nascida Um grande sonho acalentei Morar numa ilha encantada Cheia de bruxas e fadas. Nessa terra cheia de graça Onde se juntam todas as raças, Minha ilha lança ao poente O azul espelhado da lagoa, O verde silêncio das montanhas, O rumorejar de um mar azul Que beija apaixonado a areia da Minha ilha de renda poética. Não importa se há sol ou chuva, A mágica ilha é sempre azul, Fica gravada na alma e Quem aqui vem sempre vai voltar, Para descobrir novos caminhos, Novos destinos, pois Esta magia nunca irá acabar.
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