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31 janeiro 2009
O poema no tempo
Emerge da noite e do silêncio o poema,
Habitante da essência dos meus sentimentos.
O poema que me levará no tempo
E passarei entre as mãos
E diante dos olhos livres e límpidos de quem lê.
Sua passagem se confundirá
Com os assovios do vento
Com o rumor dos oceanos.
Ele encontrará uma praia de areias claras
Aonde possa se estender ao sol.
O poema morará inteiro no espaço mais aberto
De ar claro nas tardes lisas e eternas.
Quando eu já não existir mais,
O poema de asas brancas no vôo que lhe coube
Irá pousar em alguém que se fundirá a ele,
Entre paredes densas,
Quando na profunda e devoradora solidão.
Então ele emergirá, mais uma vez,
Da noite, do silêncio, como um cais seguro,
Ou quem sabe
Uma mão aberta e na palma uma esperança.
Antonio Miranda Fernandes
30 janeiro 2009
Na oscilação imprecisa das águas da memória
Se fundem numa só verdade todas as lembranças.
Ao fundo do mar e de mim, as memórias
Navegam barcos sob um céu azul,
Deslizando imprecisos, vagarosamente.
O barco se detém no remanso da água,
Corre-me água das mãos molhadas de mar, e
Uma ave pousa calada na proa...
Barco e rio são agora minha própria dimensão.
Memórias, barcos fazem parte da paisagem,
Da minha paisagem humana...
Sônia Schmorantz
Sei que sempre ficará
Algo de mim em ti
E algo de ti em mim
Como na tela o amanhecer
Que o pintor imortalizou.
E se ficam vivas nuanças
Das cores que a vida inventou,
Há um mistério que não se diz,
Escondido,
Em qualquer parte desse matiz.
E como nos versos inacabados
Que o poeta renunciou,
Fica essa aquarela,
Atraente e bela,
Pintada com cores do pranto,
Com esse lado, indecifrável,
Que o pintor deixou em branco.
Letícia Thompson
29 janeiro 2009
Quando as folhas caírem nos caminhos,
ao sentimentalismo do sol poente,
nós dois iremos vagarosamente,
de braços dados, como dois velhinhos...
E que dirá de nós toda essa gente,
quando passarmos mudos e juntinhos?
- "Como se amaram esses coitadinhos!
Como ela vai, como ele vai contente!"
E por onde eu passar e tu passares,
hão de seguir-nos todos os olhares
e debruçar-se as flores nos barrancos...
E por nós, na tristeza do sol posto,
hão de falar as rugas do meu rosto...
Hão de falar os teus cabelos brancos...
Guilherme de Almeida
28 janeiro 2009
Na poética mansidão da madrugada
Sonhos se refugiam na inquietação da alma.
A lua, farol iluminado ao longe
Hoje é quem me faz companhia.
A olhar as estrelas por entre nuvens.
Uma lágrima cai, mas não podem vê-la
Porque é da alma que sai...
Há noites assim,
Em que os corpos não se pedem,
São noites brandas de desejo,
Mãos que repousam em palavras de paz.
A cada noite numa folha branca
Os versos pedem para nascer na
Mansa inquietação com que me cubro
Nos dias em que não estás...
Sônia
Há o silêncio das estradas
e o silêncio das estrelas
e um canto de ave, tão branco,
tão branco, que se diria
também ser puro silêncio.
Não vem mensagem do vento,
nem ressonâncias longínquas
de passos passando em vão.
Há um porto de águas paradas
e um barco tão solitário,
que se esqueceu de existir.
Há uma lembrança do mundo
mas tão distante e suspensa...
Há uma saudade da vida
porém tão perdida e vaga,
e há a espera, a infinita espera,
a espera quase presença
da mão de puro mistério
que tomará minha mão
e me levará sonhando
para além deste silêncio,
para além desta aflição.
Tasso da Silveira
Imagem: Maria Branco-http://olhares.aeiou.pt/sozinho_foto730538.html
Quando uma nuvem nômade destila
gotas, roçando a crista azul da serra,
umas brincam na relva; outras, tranqüila,
serenamente entranham-se na terra.
E a gente fala da gotinha que erra
de folha em folha e, trêmula, cintila,
mas nem se lembra da que o solo encerra,
da que ficou no coração da argila!
Quanta gente, que zomba do desgosto
mudo, da angústia que não molha o rosto
e que não tomba, em gotas, pelo chão,
havia de chorar, se adivinhasse
que há lágrimas que correm pela face
e outras que rolam pelo coração!
Guilherme de Almeida
27 janeiro 2009
Há muito tempo, Vida, prometeste
trazer ao meu caminho uma doida alegria
feita de espírito e de chama,
uma alegria transbordante, assim como esse
alvo clarão que se irradia
da orla festiva das enseadas,
e entre reflexos de ouro se derrama
do cântaro das madrugadas.
Eu, que nasci para um destino manso
de coisas suaves, silenciosas, imprecisas,
e que fico tão bem neste obscuro remanso
onde apenas se infiltra um perfume de brisas,
imagino a tremer: que seria de mim
se essa alegria
esplêndida, algum dia,
houvesse surpreendido a minha inexperiência!...
A vida me iludiu, mas foi sábia na essência.
Minha alegria deveria ser assim:
Pequenina doçura delicada,
gota de orvalho em pétala de flor,
sempre serena lâmpada velada
que me diluísse as brumas do interior.
Sempre serena lâmpada velada,
símbolo do meu sonho predileto...
Se amanhã tu penderes do meu teto
aureolando minha última ilusão,
- para que eu viva em teu amor e em tua paz,
deixa um rastro de sombra pelo chão...
É nesta sombra que hei de me esconder
quando sentir a falta que me faz
a outra alegria que não pude ter!
Henriqueta Lisboa
26 janeiro 2009
Se houvesse o eterno instante e a ave
ficasse em cada bater d’asas para sempre,
se cada som de flauta,
sussurro de samambaia, mover,
sopro e sombra das menores cousas
não fossem a intuição da morte,
salsa que se parte...
Os grilos devorados não fossem,
no riso da relva, a mesma certeza
de que é leve a nossa carne
e triste a nossa vida corporal,
faríamos do sonho e do amor
não apenas esta renda serena de espera,
mas um sol sobre dunas e limpo mar,
imóvel, alto, completo, eterno,
e não o pranto humano.
Alberto da Costa e Silva
25 janeiro 2009
Tecer Sonhos
Se tenho um fio de esperança, um sonho teço,
para abrigar o sofrimento da saudade;
tantas laçadas - já nem sei fim ou começo,
qual se o agora fosse a própria eternidade.
Em cada malha de ilusão sutil, me aqueço,
talvez se acalme esse tormento que me invade;
ponto por ponto, pago sempre um alto preço,
meu fado é rude, sem mercê, sem caridade.
Hora após hora, passa o tempo, vai-se o dia,
a noite agita mil lembranças, me agonia...
Verso e reverso a tricotar, não esmoreço.
Então, de um fio de esperança... Um sonho teço!
No aqui, no agora, ou bem além do que se vê,
em cada ponto estou mais perto de você.
Patricia Neme
23 janeiro 2009
Eu sabia que um dia ela viria,
Íntima de mim a cada instante,
Embora oculta em todas minhas mortes.
O silêncio outra vez presente.
Tentei falar mas não consegui.
Dos meus olhos tão perto,
Tão distante do coração
Não sei onde ficas
Viajando por entre a solidão.
Não mais juntos:
Mas em paralelo,
Tão substancialmente sós na apertada solidão,
Que nesse silêncio se escuta a respiração de Deus.
Na nossa rota não há dois astros
Apenas nós e a cósmica solidão
Do nosso próprio infinito...
Sônia Schmorantz
Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.
Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.
Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.
Se acaso isso é desventura:
ir-se a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma tênue ferida.
Cecília Meirelles
Uma noite em que eu respirava o perfume das flores
à beira do rio,
o vento trouxe-me a canção de uma flauta distante.
Para responder-lhe, cortei um ramo de salgueiro
e a canção da minha flauta embalou a noite encantada.
Desde então, todos os dias,
à hora em que o campo adormece,
os pássaros ouvem a conversa
de dois pássaros desconhecidos,
cuja linguagem, no entanto, compreendem.
Li Po, poeta chinês (701-762 d.C.)
Do livro "Poemas Chineses"
Editora Nova Fronteira, 1996
Tradução para o português: Cecília Meireles
22 janeiro 2009
Sou entre flor e nuvem,
estrela e mar.
Por que havemos de ser unicamente humanos,
limitados em chorar?
Não encontro caminhos
fáceis de andar
Meu rosto vário desorienta as firmes pedras
que não sabem de água e de ar
E por isso levito.
É bom deixar
um pouco de ternura e encanto indiferente
de herança,em cada lugar.
Rastro de flor e estrela,
nuvem e mar.
Meu destino é mais longe e meu passo mais rápido:
a sombra é que vai devagar.
Cecília Meireles
http://ilhadamagiasoniasch.spaces.live.com/
21 janeiro 2009
É o luar que me inventa
nesta varanda de prata.
Faz bem pouco, havia apenas
silêncio, e uma alma escassa.
É do luar este conto
solto na espuma do ar,
e que me conta, me sonha
contra ruínas.É o luar
em seu tear me tecendo,
soprando-me uma alma vasta
e as velas desta varanda
em águas iluminadas
por sua lira que respira
este conto - enquanto tarda,
na sombra, a princesa fria
que há de vir me beijar.
Rui Espinheira Filho
Modinha
Tuas palavras antigas
Deixei-as todas, deixei-as,
Junto com as minhas cantigas,
Desenhadas nas areias.
Tantos sóis e tantas luas
Brilharam sobre essas linhas,
Das cantigas — que eram tuas —
Das palavras — que eram minhas!
O mar, de língua sonora,
Sabe o presente e o passado.
Canta o que é meu, vai-se embora:
Que o resto é pouco e apagado.
Cecilia Meireles
Poetisa brasileira
Definições
Sou fria e quase muda,
Quando quero ser terna,
Quando quero ser tua.
Sou pedra lisa e dura,
Que jamais canta
E que não se mostra viva,
Jamais.
Sou raiz que adentra pela terra,
Sou poeira que desaparece no ar.
Sou, quem sabe, o brilho na fresta da janela,
Que parece corpóreo,
Quando brilha o luar.
Sou água que evapora,
Sou nuvem que deságua,
Sou o sal que salga a água,
Sou a lágrima salgada
Que rolou do teu olhar...
Roseli Silveira
Primeira antologia dos poetas internautas,
Editora Blocos, 1997 - Rio de Janeiro, Brasil
20 janeiro 2009
Porque me despes completamente
sem que eu nem perceba...
E quando nua
por incrível que pareça
sou mais pura...
Porque vou ao teu encontro
despojada de critérios...
liberto os mistérios
sem perder o encanto
do prazer...
Porque
quando nua
sou única
e exclusivamente
tua...
Isabel Machado
Poetisa brasileira
19 janeiro 2009
É do ocaso que te quero falar:
Da angústia que se esvai;
Com ela o sol.
Da hora em que o silêncio ainda é tão leve
que nem sequer a brisa o trai.
Verás o tempo estagnar
no intangível esbater da cor.
Os cinzas e os cobres em que repousam
os verdes e os azuis.
Quero falar-te do desassossego dos pássaros,
prenúncio da calma de mais uma noite,
e, da paz intensa, mas tão breve,
que gostava de partilhar contigo,
meu amor.
http://poemasmanuelfilipe.blogspot.com/
18 janeiro 2009
Senta-te ao lado do meu silêncio.
Não me abraça agora, mas
Escuta as ondas e o meu silêncio...
Senta-te comigo,
Sente o cheiro da maresia e olha
Mar e céu fundidos nesse intenso azul.
Deixe que eu respire o perfume do mar
Pressentindo o calor da tua pele
Sem ainda te tocar...
Deixa que eu perceba o bater do teu coração
Misturando-se ao vai e vem das ondas...
Deixa-me voar em pensamentos
Sem tirar os olhos do mar,
Espera o vento cálido chegar
Para então dizer que me ama...
Ate lá me deixa ficar só assim,
Sentindo a tua presença e o mar
Depois falaremos de amor e mais nada....
Sônia Schmorantz
Sorriso
17 janeiro 2009
A tarde é tão serena que parece
vir do hálito que sobe do teu sono.
Vejo-te ir nas nuvens do abandono,
comovido de calma. A tarde desce
ao longe, sobre o mar. Mas lenta e leve,
como a exala o sonho desse sono.
E tudo, enfim, é o sopro do abandono
e o seu sussurrar na mão que escreve.
Dormes como num vôo. Como se fosse
quando o tempo era jovem. E então me sinto
pleno de mar e luz e céu — e sou
claro e soberbo por estar absorto
no abandono desse pó de estrelas
que se juntou para inventar teu corpo
RUY ESPINHEIRA FILHO
Poetas Brasileiros
Imagem: Praiaa do Moçambique - Florianópolis
16 janeiro 2009
E então ficamos os dois em silêncio, tão
quietos
como dois pássaros na sombra, recolhidos
ao mesmo ninho,
como dois caminhos na noite, dois
caminhos
que se juntam
num mesmo caminho...
Já não ouso... já não coras...
E o silêncio é tão nosso, e a quietude
tamanha
que qualquer palavra bateria estranha
como um viajante, altas horas...
Nada há mais a dizer, depois que as
próprias mãos
silenciaram seus carinhos...
Estamos um no outro
como se estivéssemos sozinhos...
J.G. de Araujo Jorge
15 janeiro 2009
Ensina-me como aprenderei a contar
As areias da praia
Sem as espalhar
Como juntar as nuvens
Sem as esfarrapar
Como nadar no rio sem me molhar
Ensina-me a amar sem sofrer
A ter sem saber
A compartilhar e receber
A dar e perder
Ensina-me a voar
A ter asas e as merecer
A usar as palavras
Sem as estragar
E sobretudo
Ensina-me a ficar
Aqui a olhar
O vaivém das ondas do mar…
Poema de Piedade Araújo Sol in Ecos
14 janeiro 2009
De tudo aquilo restou-me um esquecimento
como um perfume transparente e vago.
E assim posso dizer que o respiro
como a um perfume.
De tudo aquilo restou-me um vazio
como um verso, de súbito, esquecido.
E assim talvez de repente o recorde
como a uns versos.
De tudo aquilo restou-me uma lua
secreta, lentamente evaporada.
E assim é possível que uma tarde volte
como a lua.
De tudo aquilo restam-me sonhos,
sonhos,sonhos, que o tempo esfuma
E já não sei se aquilo foi sequer
como os sonhos.
Eduardo Carranza
13 janeiro 2009
Tudo me prende à terra onde me dei:
o rio subitamente adolescente,
a luz tropeçando nas esquinas,
as areias onde ardi impaciente.
Tudo me prende do mesmo triste amor
que há em saber que a vida pouco dura,
e nela ponho a esperança e o calor
de uns dedos com restos de ternura.
Dizem que há outros céus e outras luas
e outros olhos densos de alegria,
mas eu sou destas casas, destas ruas,
deste amor a escorrer melancolia.
Eugénio de Andrade
Hoje venho dizer-te que nevou
no rosto familiar que te esperava.
Não é nada, meu amor, foi um pássaro,
a casca do tempo que caiu,
uma lágrima, um barco, uma palavra.
Foi apenas mais um dia que passou
entre arcos e arcos de solidão;
a curva dos teus olhos que se fechou,
uma gota de orvalho, uma só gota,
secretamente morta na tua mão.
Eugénio de Andrade
12 janeiro 2009
Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.
Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem.
No interior das coisas canto nua.
Aqui livre sou eu — eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos
Aqui sou eu em tudo quanto amei.
Não pelo meu ser que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos atos que vivi,
Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.
Sophia de Mello Breyner Andresen
11 janeiro 2009
Até o amor nos ensinar...
Até o amor nos ensinar
dançaremos como quando dança o mar
água que por dançar se deita
sem transparência até lavarmos nossa cara
dentro da imprevista onda derradeira
do mar a água mais clara: a mais funda.
Até que a paixão nos instrua
dançaremos como se dançasse a lua
que enquanto gira sempre oculta a mesma face
até mudarmos nossa roupa
para vestirmos a máscara absoluta
da lua a face mais clara:
a outra.
Jayme Kopke
A princípio uma, duas, uma dezena, uma linha
interrompida pairava escorregadia pelas águas.
gaivotas julguei eu que na noite tinha gritado
ou sonhado, deixem-me ir convosco,
mas elas estavam ali atracadas no silêncio do cais.
as outras, apenas aves, das que vão e
vêm quando é tempo de ir e vir.
e vinham para logo irem, muitas, quais fiapos jorrando
cada vez mais e mais, voando com o olhar
já na foz, tal como aquela correnteza imperceptível
da água. já não era um bando, era um pano
de aves escuras em contraluz, deslizando
entre dois panos cerúleos,
juntando-se lá longe como uma só
asa dançando evocante.
e em revolto véu romperam o horizonte.
no cais em silêncio, eu e as gaivotas.
http://lugarefemero.blogspot.com
Dançam, rodopiam, levitam
Teus olhos –
Pequenas bailarinas de pés feiosos –
Pelo pôr de sol avermelhado.
A tarde teria que ser assim,
Calma, com a brisa lúdica invadindo a alma.
Gaivotas sobrevoam um mar negro
Carregando, vez por outra,
Um peixe brigador.
As palavras,
Você as disse de forma a combinar
Com o cenário.
Foi um adeus como todos os outros,
Mas carregava tua poesia.
http://mimesisoutrem.blogspot.com
10 janeiro 2009
Sonhamos voar azul dos pássaros
uma grinalda branca para enfeitar um rosto de mulher,
um cavalo de sangue lusitano no coração dum réptil.
De tempos a tempos desenterramos um diamante
dentro duma ostra
(que nunca nos pertence),
mas resistimos,
porque as águas caiem escorrendo sobre a fronte
porque a cidade se estende no interior
das árvores
porque as árvores se justificam na solidão dos ares.
Vieira Calado
09 janeiro 2009
Chegarás sempre na última palavra
na tarde noturna do desejo
onde a paixão se recolhe
e deposita até os fantasmas
febris do desespero
Chegarás na bruma
das sílabas sonoras do amor
o ar sonando no sonho
como uma nuvem que se perdeu
e fica boiando no horizonte
Chegarás como a sombra
quente do sol
esquecida no adeus
Chegarás para dizer
que o amor revela-se
à luz noturna das palavras.
Luiz de Miranda
08 janeiro 2009
No fundo dos meus olhos,
quando eu não puder reconhecer
o brilho de outros sonhos
ou mesmo quando o riso
não trouxer ternuras e esperanças,
ainda há de restar a sedução do verbo,
aquele que me toma a alma em sobressalto,
aquele que arrebenta algemas do passado,
que estilhaça o painel da realidade
e me oferece
a taça inebriante do apenas imaginado ...
No fundo do meu peito,
quando o coração quiser calar
todas as vozes que me encantam,
emudecer canções que me acalentam,
silenciar acordes que me embalam,
ainda hei de escutar
uma orquestra de estrelas cristalinas,
miríades de graças ,luzes, cores, vidas,
pois onde a poesia está,
ali, eu vivo ...
Alphonsus Guimaraes
Guardei-me para ti como um segredo
Que eu mesma não desvendei:
Há notas nesta guitarra que não toquei,
Há praias na minha ilha que nem andei.
É preciso que me tomes, além do riso e do olhar,
Naquilo que não conheço e adivinhei;
É preciso que me ensines a canção do que serei
E me cries com teu gesto
Que nem sonhei.
Lya Luft
Imagem: Lagoinha Leste Florianópolis
Direi aos pássaros que quedem
Seu esvoaçar
Ao mar que aconchegue as marés
Sobre o regaço da areia
Á noite que acenda
Nas pontas dos seus dedos
O brilho da emoção
Ás pedras que calem as passadas
Para que sinta o cetim da inspiração
Vestirei minha alma
De silêncios
Desfolharei cada palavra
Enquanto o vento encosta sua boca
Ao meu rosto
Deixando sobre este manto de azul
Tudo o que sinto
No tracejar deste espaço
Feito de migalhas da Alma.
E.Vieira
Escrevi ao mar palavras da minha verdade
Conversa minha ao azul da tua ilusão
Falei de ti as melhores frases de saudade
Que a praia conhece da nossa paixão.
Falei dos meus amores e lindas cinderelas
Junto á beira das ondas do meu anseio
Prometi deixar amizade em rosas amarelas.
E de estar contigo como quem sonha um passeio.
De mãos dadas nas rochas que se quer ver
Pisando em sonho a fina areia de praia salgada
Molhando os passos de amor que quer viver
Se lhe deixo amarelas, fica outra encarnada.
http://osaldanossapele.blog.simplesnet.pt/archive/2007_07.html
07 janeiro 2009
Quarenta e tantos...
Fica comigo para contar estrelas
Para caminhar na chuva pela rua
Quero vagar contigo pela praia
Poder molhar os pés a beira mar
Vamos dormir juntinhos numa rede
Dar beijos longos sob a lua cheia
Tomar sorvete direto do pote
Vendo TV embaixo do edredom
Logo começa a nova temporada
Do seriado que sempre assistimos
E eu sem dizer o tanto que te amo
Me dá quarenta anos do teu lado
Para eu não ter chance de esquecer de nada
Para eu ter idade pra esquecer de tudo
E depois dá quarenta outros tantos
Para eu poder viver tudo outra vez.
Anderson Santos
06 janeiro 2009
Nenhum sopro de ausência.
Só a paixão
Suave de um sol íntimo
No seu ninho verde e alaranjado.
Simplicidade de substância volátil,
Desejo no seu silêncio,
Luxo indolente, frescura de vértebras solares.
Intimidade perfeita
E que demora numa cândida estância.
Tudo se tornou interno neste espaço interior,
Na delícia extrema de um sossego de folhas.
O que era fugaz converteu-se em tempo enamorado
E em tranquila doçura de hábitos.
António Ramos Rosa
O problema não é meter o mundo no poema;
alimentá-lo de luz, planetas, vegetação.
Nem tão pouco enriquecê-lo,
ornamentá-lo com palavras delicadas,
abertas ao amor e à morte, ao sol, ao vício,
aos corpos nus dos amantes.
O problema é torná-lo habitável,
indispensável
a quem seja mais pobre, a quem esteja
mais só do que as palavras
acompanhadas no poema.
Casimiro de Brito
Ofereço minha face ao vento,
perco a noção do tempo e olho o mar imenso.
Hoje não quero intinerário,
quero ficar à deriva,
a vislumbrar o horizonte,
a ouvir o vento, o som, o lamento,
o bonito canto, que parecem me seduzir.
Hoje só quero olhar
O mar, a areia molhada
O vento, o barquinho lá longe
Os azuis que moram em mim
O sossego, o andar à toa
O falar sozinha.
E os sonhos a dançarem
Nas ondas do mar...
A minha alma não tem pressa,
só quer navegar, voar, voar...
há hoje em mim
uma pitada de infinito!
Inspirado em poema de rosepetals
O simples olhar de um poema de amor
pendurado na parede
sobrevive ao tempo esquecido
Esqueci de esquecer a dor
da sobrevivência deste poema.
A ingratidão de ser humano
é sentir na alma as lágrimas do coração
Um poema que sobrevive nas quatro
paredes que me rodeiam, confortando-me
com um simples olhar.
Este poema existe em mim...
http://jamour.blogs.sapo.pt/
05 janeiro 2009
E é a tua voz que assim oiço
neste silêncio dormido.
É por ela que em cada gesto sentido
eu nos meus gestos acordo rendido
ao trazer ela sussurrada a luz que
me acende em carinho cada traço teu
quando no teu rosto um aroma teu
de madrugadas faço eu meu
nas cores de um acordar meu
por cada alvorecer teu
E tão perto esse rosto está
que longe toca o intemporal
na companhia dos passeios em
tela luzidia pelos dias ao fim do dia
onde desenho eu o toque de uma ténue
e singela carícia numa delícia
tal como se a brisa que passa
fosse um sopro de um beijo meu
quando pelo inicio das manhãs
respiro eu da tua voz um carinho teu
e os meus olhos acordo assim aconchegados nos teus
pois da luz em cobertores brancos
nos sonhos deitada e levada pelo dia
respiram eles distante a água dos rios que se adia
em aromas sonhos e anseios de maresia
E saio
vou voo rio na corrente que se espalha
fluída em busca dos teus braços.
http://amrd.blogspot.com/
04 janeiro 2009
Pintei um jardim, escondi-me lá dentro,
pintei uma casa, tapei-a com hera,
o fumo pintei sumido no vento,
pintei-me a mim mesmo a dormir sobre a erva.
Pintei as flores da cor do solfejo,
da cor do desejo pintei a mulher,
da cor da mulher pintei o que vejo,
a mim mesmo pintei-me da cor do meu ser.
Pintei o azul da cor dos meus olhos,
Pintei os meus olhos cobertos de névoa,
A névoa pintei da cor dos meus sonhos,
Pintei-me a mim mesmo deitado na terra.
O frio pintei da cor dum menino,
a chuva a cair com um som de piano,
pintei um sorriso de branco de lírio
a mim próprio pintei-me de costas na cama.
Pintei minha mãe da cor da alvorada,
minha terra pintei com as cores do que digo,
ao silêncio pintei-o com o gosto da água,
a mim mesmo pintei-me a sonhar de castigo.
Pintei os meus dedos de cor borboleta,
pintei os meus passos de cor solidão,
minha vida pintei com as cores da paleta,
a mim própria pintei-me estendido no chão.
Jorge Guimarães
Tenho o direito...
Tenho o direito
de ter asas nos meus bolsos
de ser folha ao vento e pétala de mar
de querer o impossível
de não ser igual aos outros
de inventar o inexistente
de exigir que me abram todas as portas
de não querer fronteira,
de saber todos os segredos e desejos
de correr todos os caminhos
de pintar poemas com cores de luz
de escrever versos em branco
de não vender poesia
de ver que nada é igual
e que é tudo a mesma coisa
de ser semente, flor e fruto
de andar vestida como quiser
de andar nua como vim ao mundo
de beber sumo de ausência para não morrer
de morar no sol e fazer férias na lua
de multiplicar o amor contigo
e ser feliz para sempre.
Poema da Betty
http://catedral.weblog.com.pt/arquivo/153434
Gosto de paisagens de final de dia...
É como sentar e descansar,
Hora de respirar mansinho
como a gaivota ao lado...
Gosto de paisagens assim,
É como sentir a brisa fria que passa,
E ainda assim sentir como é gostosa a vida...
Cá estamos sós,
Podemos sonhar embalados nas ondas,
Acarinhados pelo sol que se despede...
Gosto de paisagens assim...
Só se ouve o mar...as gaivotas...
Serena paz que envolve o ser,
Que bom ter um refúgio!
No final deste dia, deixo-vos esta paz,
Sônia Schmorantz
03 janeiro 2009
Esta Noite
Esta noite
no silêncio destas paredes sombrias
cheias de palavras consumidas
a lua dança com gestos de encantamento
e as estrelas sorriem de prazer
Esta noite
invento-te nesta distância magoada
onde as palavras repousam
nos lábios ausentes que riem e se alimentam
de sabores sonhados
Esta noite
arde uma fogueira de nostalgia
e o mistério absorvente da tua luz
entra em mim mansamente
Aqui
longe de ti e de tudo
sinto-me bem dentro de ti
e deixo-me ficar...
António Sem
Se queres saber de mim
Se queres saber de mim
não olhes os meus retratos
julgando saber-me assim.
Se queres saber quem sou
não busque nas minhas respostas
quando perguntas onde vou.
Se queres saber quem é
esta que te sorri
não olhe para a mulher.
Que não me saberás pelo sorriso,
não me conhecerás pelas respostas,
meus retratos são imprecisos,
a cada dia traço novas rotas.
Se queres porventura, um dia,
entender deste coração,
olhe meus olhos primeiro:
é neles que mora a poesia
que me explica dia após dia
e me mostra por inteiro.
Se queres saber-me de fato,
recomendo-te menos cuidado,
muito carinho, pouca fala,
mais riso e tato, muito tato.
Débora Cristina Denadai
http://nacorrentedavida.blogspot.com/
Dai-me um dia branco, um mar de beladona
Um movimento
Inteiro, unido, adormecido
Como um só momento.
Eu quero caminhar como quem dorme
Entre países sem nome que flutuam.
Imagens tão mudas
Que ao olhá-las me pareça
Que fechei os olhos.
Um dia em que se possa não saber.
Sophia de Mello Breyner Andresen
02 janeiro 2009
Soltei palavras ao vento...
Palavras soltas como
Pássaros de asas abertas
Que não possuem destino,
Nem desatino,
apenas pulsam em vôos livres...
Pois que voem livres as palavras,
Que ecoem em canções e gemidos.
Em pranto e prece, até que se calem
Todas as feridas, todas as iras...
Que a palavra finalmente expressa,
Seja livre, doce e calma
Definitivamente liberta, pois...
Hoje quero esta calma,
Azul e mar,
Sono e cama,
Silêncio e palavra...
Sônia Schmorantz
Sou só a cor do céu
e das montanhas,
azuladas entranhas
na ilusão do olhar.
Sou só o verde da vegetação,
cor de mãe primitiva,
calma viva
e repouso e proteção.
Sou só a água que envolve,
que amamenta,
que absolve.
Sou só esse chão arenoso,
chão de praia,
que desmaia,
sob seu corpo,
mulher.
Eliane Ferreira de Cerqueira Lima
01 janeiro 2009
Às vezes tenho a impressão
de que não devia publicar estas palavras
nascidas para viverem em surdina
ao teu ouvido.
Às vezes penso que deveria deixar no limbo
do coração
estas palavras de ti e para ti
e que tomaram imprevisivelmente a forma de canção.
Estas palavras que te colhem toda
e te deixam nua,
e me dão a impressão de que também
tenho nu o coração, em plena rua.
http://danca-dos-erros.blogspot.com
Ainda não estou preparado para perder-te
Não estou preparado para que me deixes só.
Ainda não estou preparado para crescer
e aceitar que é natural
para reconhecer que tudo
tem um principio e tem um final.
Ainda não estou preparado para não ter-te
e somente recordar-te.
Ainda não estou preparado para não poder ouvir-te
ou não poder falar-te,
não estou preparado para que não me abraces
e para não poder abraçar-te.
Ainda te necessito
e ainda não estou preparado para caminhar
pelo mundo perguntando-me...porque?
Não estou preparado hoje nem nunca estarei.
Pablo Neruda
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Quem sou eu
- Sonia Schmorantz
- Gaúcha, nos pampas nascida Um grande sonho acalentei Morar numa ilha encantada Cheia de bruxas e fadas. Nessa terra cheia de graça Onde se juntam todas as raças, Minha ilha lança ao poente O azul espelhado da lagoa, O verde silêncio das montanhas, O rumorejar de um mar azul Que beija apaixonado a areia da Minha ilha de renda poética. Não importa se há sol ou chuva, A mágica ilha é sempre azul, Fica gravada na alma e Quem aqui vem sempre vai voltar, Para descobrir novos caminhos, Novos destinos, pois Esta magia nunca irá acabar.
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